O potássio é um dos elementos indispensáveis para o sucesso do agronegócio. Ele é parte do
NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) usado para fertilizar o solo, tanto para a produção de grãos
e frutas quanto para o preparo de campos destinados à criação de animais (caprinos, ovinos ebovinos).
As maiores reservas do planeta estão na Bielorrússia, no Canadá e na Rússia, que, juntas, rendem 60% da demanda mundial. Existem também reservas menores em outros países.
No Brasil, as maiores reservas estão localizadas em Sergipe, no Amazonas e em Minas Gerais.
Estima-se que o país possua uma reserva de 478 milhões de toneladas de potássio. No entanto,
o Brasil, que tem potencial suficiente para atender por anos à demanda do agronegócio, é
totalmente dependente de outros países, importando cerca de 90% do que utiliza para fertilizaro solo.
Em Autazes, no Amazonas, esse minério está a aproximadamente 800 metros de profundidade,
próximo ao Rio Madeira, o que torna sua exploração relativamente simples (no Brasil e em outros países, ele é frequentemente encontrado em profundidades muito maiores).
Portanto, se o Brasil é campeão mundial na produção de vários tipos de grãos e de proteína
animal, e para isso precisa de potássio, surge a pergunta: por que gasta suas reservas cambiais
adquirindo esse minério de outros países, em dólares, o que encarece o custo, quando poderia
explorar suas imensas reservas no próprio território?
A resposta é simples: primeiro, pela falta de planejamento e de políticas públicas estratégicas para o bem do país; segundo, porque essas reservas estão em terras habitadas por nossos irmãos indígenas.
Os mandatários atuais acreditam que os indígenas brasileiros devem continuar
vivendo como na época do descobrimento – sem acesso à modernidade, boas escolas, hospitais
ou oportunidades – em completa harmonia com a maioria das ONGs, que não priorizam o
desenvolvimento do Brasil ou o bem-estar do nosso povo.
No Amazonas, em Autazes, há uma reserva de potássio que poderia abastecer, por muitos anos, toda a demanda do agronegócio brasileiro. Entraves de toda ordem têm impedido suaexploração há 20 anos, e os indígenas muras, que habitam parte da região, continuam vivendo em situação de extrema pobreza. Muitos precisam pescar à noite para, no dia seguinte, trocar o peixe por arroz, açúcar, café ou outros produtos básicos.
Eu não concordo com essa situação. Primeiro, o Brasil tem o direito de explorar, como todos os
países fazem, seus recursos naturais, utilizando, obviamente, mecanismos sustentáveis.
Segundo, o município de Autazes e a sua população, incluindo os nossos irmãos indígenas, têm o direito de se beneficiar dessa exploração. Estima-se que mais de 17 mil empregos diretos e indiretos sejam criados na região, mudando significativamente a vida dos habitantes locais.
A pujança da atividade econômica beneficiaria também os municípios de Nova Olinda do Norte,Borba, Careiro Castanho, Manaquiri, Careiro da Várzea e até Itacoatiara. A riqueza gerada poderia ser usada para desenvolver outras atividades econômicas, como o aproveitamento de áreas degradadas para implantar tanques de piscicultura consorciados com o cultivo de frutas tropicais, como açaí, acerola e camu-camu. Isso mudaria o perfil econômico da região,permitindo a transição de criadores de gado para corte e leite em áreas já exauridas para aprodução de proteína de peixe, altamente valorizada no mercado. Afinal, o Amazonas consomemais de 80% do tambaqui e matrinxã vindos de Rondônia e Roraima.
É hora de agir com sabedoria, envolvendo todos os interessados na busca de uma solução
sustentável – tanto para atender às demandas do povo mura quanto para garantir a
sustentabilidade ambiental. O Brasil precisa sair dessa situação incômoda de dependência de
países vizinhos, quando possui, em seu próprio território, os recursos necessários.
Manaus, 10 de janeiro de 2025.
Professor José Melo
Ex-Governador do Estado do Amazonas
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