O Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) iniciou, nesta segunda-feira (26), a audiência de instrução e julgamento do desembargador aposentado Rafael Romano, de 72 anos. O magistrado é suspeito de cometer abusos sexuais cometidos contra a neta. Os abusos teriam iniciado quando menina tinha apenas 7 anos. Atualmente a neta tem 15 anos.
Em abril deste ano, o Ministério Público do Estado (MPE-AM) denunciou Rafael Romano e a justiça acolheu a denúncia. O caso começou a tramitar na Vara Especializada em Crimes Contra a Dignidade Sexual de Crianças e Adolescentes.
No início da manhã desta segunda-feira, a juíza Patrícia Chacon de Oliveira Loureiro, que é responsável pelo processo, começou ouvir as testemunhas de acusação. Serão ouvidas ainda até manhã as testemunhas de defesa e por último o réu.
Entenda o caso
Rafael Romano é avô paterno da vítima, que tinha 7 anos quando os abusos começaram, em 2009. As situações foram relatadas pela jovem em depoimento à Delegacia Especializada em Proteção de Crianças e Adolescentes (Depca). Os relatos foram incluídos na denúncia do MPE.
Segundo a vítima, o último caso ocorreu quando a menina já estava com 14 anos, em 2016. Na ocasião, ela disse que uma tia chegou a ver a situação, mas negou quando foi questionada sobre os abusos por “sentir vergonha”.
O caso veio à tona depois que a mãe denunciou o caso ao Ministério Público. Ela relatou à Rede Amazônica que soube da situação pela própria filha no dia 8 de fevereiro de 2018. Ela disse que visitava uma amiga em um hospital quando a filha decidiu revelar a situação.
“Ela disse que tinha uma notícia muito grave para me contar. Ela disse ‘meu avô está me molestando desde que eu era pequena’. Tomei um susto, precisei respirar, fiquei completamente sem chão”, disse a mãe.
Na época, a advogada publicou um texto nas redes sociais onde expõe a denúncia e chama o ex-sogro de “monstro horroroso” e “pedófilo”.
“Não tem coisa pior que um pedófilo abusando da sua filha. E pior que isso, um pedófilo que é avô dela, que vivia na minha casa, eu cozinhava pra ele, eu deixava o meu quarto pra ele dormir na minha casa, enquanto eu tava preparando o almoço ele abusava da minha filha no quarto”, relatou.
Rafael Romano atuou no Juizado da Infância e da Juventude no Amazonas e foi relator da operação Estocolmo, deflagrada em 2012 para combater o crime de exploração sexual de jovens no Amazonas, envolvendo políticos, entre eles o ex-prefeito de Coari Adail Pinheiro, e empresários.
‘Tinha vergonha’
“Eu não me arrependo por ter contado, porque sei que vai ter justiça”. A fala é da neta do desembargador aposentado Rafael Romano. Ela diz ter sido estuprada pelo avô desde que tinha 7 anos. À Rede Amazônica, ela falou com exclusividade sobre o caso.A vítima, hoje com 15 anos, disse em entrevista que tinha vergonha de falar sobre o caso aos familiares. Segundo ela, a coragem para fazer a denúncia veio por conta da personagem Laura, da novela outro Lado do Paraíso, que também era vítima de abuso sexual.
“O pior de tudo é que você espera que seja uma pessoa de fora que vai abusar de você, mas não foi. Foi de dentro de casa, foi o meu avô, então, me deixava paralisada, porque eu não conseguia entender, como é que alguém pode fazer isso… eu era neta dele”, disse a menina.
Quando juiz, Romano trabalhou por dez anos na vara da infância e juventude, atuando em casos de exploração sexual infantil. Foi dele a decisão que condenou o ex-prefeito do município de Coari, Adail Pinheiro, por crimes sexuais contra menores. O caso ganhou repercussão nacional.
A mãe foi a primeira a ouvir o desabafo da filha. Foi ela quem levou o caso ao Ministério Público, que, após investigação da polícia, ofereceu denúncia contra o desembargador por abuso sexual. A denúncia foi aceita e, agora, o desembargador deve apresentar a defesa.
“A família do Rafael Romano não acredita, nega, e quando o desembargador teve acesso ao que a neta disse, junto com seus familiares, o pai da menina, a avó da menina, a reação foi de preocupação extrema, porque ela realmente não está ali demonstrando verdade”, disse o advogado do desembargador, José Carlos Cavalcanti.
Fonte: G1/AM
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