Luiz Carlos dos Santos, de 65 anos, aponta para um ponto próximo ao teto no 2º andar do sobrado em que mora no distrito de Faria Lemos, área interiorana de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. A casa está repleta de lama, com marcas acima dos 2 metros no andar de cima. Embaixo, o térreo virou um lamaçal.
É a terceira vez desde setembro de 2023 que o funcionário público aposentado lida com as consequências da cheia dos rios. A maior tragédia do Rio Grande do Sul deixou 143 mortos e 125 desaparecidos até este domingo (12). Cinco desaparecidos são procurados em Bento Gonçalves, a cidade de Luiz Carlos.
O aposentado mora à beira do Arroio Pedrinho, que recebe águas do Rio das Antas. Ao g1, Luiz Carlos relembra os momentos antes da nova tragédia: em aproximadamente quatro horas, o que era uma pequena faixa de água subiu cerca de 5 metros, segundo ele, e invadiu os fundos do terreno e os galinheiros. Á agua deixou a casa e a área dos fundos submersas.
A região da Serra Gaúcha segue debaixo de fortes chuvas desde o início dos temporais no Rio Grande do Sul. O Inmet alerta para “grande risco de grandes alagamentos e transbordamentos de rios, grandes deslizamentos de encostas” em todo o estado.
Luiz Carlos já planeja o terceiro recomeço em oito meses: vai levar sua casa para a parte de cima do terreno, onde a esposa tem um pequeno comércio. O sobrado que foi atingido será reformado e o custo é estimado em R$ 60 mil. O espaço abrigará as visitas do casal.
“Eu gosto daqui, de morar aqui. É um lugar bom, tranquilo, não adianta a gente sair se debatendo para lá e para cá. Depois de uma certa idade, não vale a pena”, diz o aposentado, que culpa as barragens feitas no vale da região da Serra Gaúcha pela tragédia na sua região.O governo gaúcho, de Eduardo Leite (PSDB) estima que serão necessários R$ 19 bilhões para reconstruir as cidades no longo e médio prazo, enquanto o governo federal, de Lula (PT), anunciou um pacote de R$ 50 bilhões de socorro ao estado.
Cheia dos rios e vilarejos sem água e energia
As águas do Rio Taquari subiram e causaram destruição nas cidade de Muçum, Roca Sales, Arroio do meio e Lajeados, por exemplo, antes da chegada à capital Porto Alegre. Em Santa Tereza, os terrenos beira-rio seguem com marcas de destruição e de lama.
No centro do município, as marcas da altura da água nas paredes são cicatrizes das enchentes passadas. As marcações atuais, altas, de 1,5 metro, se aproximam do 1,9 metro registrado em dezembro de 2023.
Atingidas indiretamente pelas cheias dos rios e pelos desmoronamentos de morros, algumas vilas de Bento Gonçalves estão há cerca de 10 dias sem água e sem energia elétrica. É assim na comunidade KM 2, onde fica uma antiga estação de trem, próximo à estrada que liga Bento a Veranópolis.Sadir Francisco, de 59 anos, acende velas durante as noites e conta com doações de garrafas d’água da prefeitura para se hidratar. O banho é feito com a água que vem de uma pequena fonte, fervida antes do uso.
Quem ajuda na alimentação da vila é a cozinheira Jurema Alves da Silva, de 47 anos. Ela alugou uma casa na área central de Bento para ter acesso a água e luz. Estima gasto de R$ 1 mil.
“Eu gostaria que vocês fizessem um apelo assim ó: água e luz aqui. Nós precisamos com urgência, porque estrada provisória a prefeitura se vira, já arrumaram”, afirmou.
Fonte: G1
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