- Economia

Analistas veem avanço mais lento que o esperado na agenda de reformas do governo

Os primeiros passos do governo Jair Bolsonaro indicam que a batalha no Congresso para aprovar reformas econômicas, em especial a da Previdência, pode ser mais difícil do que o esperado. Aos poucos, analistas ouvidos pelo G1 começam a apontar que o governo deve levar mais tempo para tirar medidas importantes do papel.

Desde a disputa eleitoral do ano passado, a equipe econômica de Bolsonaro assumiu uma bandeira reformista e um discurso liberal, o que sempre foi bem visto pelo mercado. Nas últimas semanas, no entanto, ruídos na articulação do governo para aprovar a reforma da Previdência, considerada fundamental para o acerto das contas públicas, acenderam o sinal de alerta entre os investidores. No mercado, o reflexo ficou evidente: o dólar e a bolsa valores têm enfrentado bastante volatilidade.

“Eu vejo uma correção das expectativas e essa volatilidade tende a continuar no mercado”, afirma a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.

Um levantamento da XP realizado com agentes de mercado deixou claro esse aumento do ceticismo com a negociação política do governo. Em fevereiro, 39% dos entrevistados esperava a votação da Previdência no plenário da Câmara em junho, enquanto outros 40% dos entrevistados previam a votação entre agosto em dezembro.

Na pesquisa deste mês, apenas 10% esperavam a votação em junho e 61% acreditam que ele vai ocorrer entre agosto e dezembro.

Para aprovar a reforma, o governo precisa de 308 votos na Câmara dos Deputados. A proposta precisa passar por duas votações na Câmara e duas no Senado antes de ser sancionada pelo presidente e entrar em vigor.

Negociação difícil
A expectativa de uma tramitação mais complexa e demorada do que se imaginava fez com que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reduzisse fortemente suas estimativas para o crescimento do setor este ano: a taxa esperada passou de 3% em dezembro para 1,1% esta semana.

A dificuldade de articulação política, segundo os analistas ouvidos pelo G1, ficou evidente com o embate entre Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e depois da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do orçamento, o que indicou uma desarticulação do governo no Congresso. A PEC aumenta os gastos obrigatórios ao tornar impositivas as emendas de bancada e vai na contramão do que defendia a equipe econômica – a proposta do Ministério da Economia é justamente descentralizar e desobrigar investimentos mínimos em várias áreas.

“O ambiente está mais complicado não só para os mais otimistas, mas até mesmo para os mais cautelosos”, afirma a economista e sócia da consultoria Tendências Alessandra Ribeiro. “Do ponto de vista político, o governo ainda não conseguiu se organizar.”

Nos últimos dias, num movimento para se aproximar do Legislativo, Bolsonaro passou a se encontrar pessoalmente com líderes partidários para tentar fazer avançar a reforma da Previdência. Na sexta-feira (4), recebeu seis presidentes de partidos. Na quarta-feira (10), se encontrou com parlamentares de mais cinco partidos.

“Fiquei bem impressionado com a equipe econômica e a estrutura montada por Paulo Guedes no ministério”, diz o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall. “Vejo o saldo até como positivo desses primeiros dias, mas agora há incertezas ligadas à questão política. Há uma pulverização e uma grande renovação (na Câmara). Há uma base do governo que é pró-mercado, o que não havia no passado, mas há muita gente nova e inexperiente.”

Diluição da reforma
Os analistas ainda têm como cenário principal a aprovação da reforma da Previdência, mas a expectativa de que o processo seja mais lento do que o esperado também abre espaço para uma diluição na economia prevista pelo projeto, de R$ 1,1 trilhão em 10 anos.

Na avaliação da consultoria de risco Eurasia, por ora, a probabilidade de aprovação da reforma da Previdência é de 70% e ela deve ocorrer até a segunda quinzena de julho na Câmara dos Deputados. A expectativa de economia é de R$ 600 bilhões.

“Nós já estávamos mais céticos do que a média, mas hoje estamos confortáveis com essa posição”, diz o analista da Eurasia Christopher Garmam. “Na nossa avaliação, a aprovação da reforma deve ocorrer até a segunda semana de julho, mas o calendário está ficando apertado.”

A reforma do governo tem sido monitorada, sobretudo, por investidores estrangeiros. O movimento de alta da bolsa no início do ano foi puxado pelos investidores locais. “Os investidores estrangeiros estão posicionados em Brasil, mas estão aguardando as reformas”, afirma Zeina.

Agenda de longo prazo
Uma parte dos analistas também está com dificuldade de fazer a leitura da agenda de mais longo prazo do cenário para o país. A reforma da Previdência, afirmam, é só um passo necessário para o Brasil voltar a crescer de forma mais robusta.

O governo Bolsonaro também terá de endereçar outros pontos, como a reforma tributária, para destravar a competitividade da economia brasileira e, consequentemente, avançar em vários pontos para melhorar o ambiente de negócios. “Depois da Previdência, o nosso cenário de reformas econômicas é bem moderado”, afirma Alessandra, da Tendências.

Esse ceticismo vem num momento em que as expectativas de crescimento também estão piorando. Nas últimas semanas, os analistas têm piorado a previsão de crescimento econômico deste ano. No relatório Focus, do Banco Central, a previsão dos economistas é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça apenas 1,97% neste ano. No início do ano, as projeções mais otimistas apontavam alta de até 3%.

Para 2020, a previsão de crescimento é de 2,70%. Há quatro semanas, a projeção era de 2,80%.

Nesta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) também revisou para baixo a estimativa de crescimento do Brasil este ano, para 2,1%.

Fonte: G1


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