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Do plantio à xícara: como o grão de café vira bebida que é paixão nacional

A história do café no Paraná é digna de cinema: nos anos 60, o estado chegou a ser líder mundial na cafeicultura. Porém, a chamada “geada negra” de 1975 devastou plantações no estado, obrigou milhares de agricultores a deixar a região ou a buscar outras culturas para cultivar.

Ainda assim, hoje o Paraná é o sexto maior produtor nacional. O setor trabalha para aprimorar e valorizar o café, criando classificações que ajudam a identificar o tipo e a qualidade da bebida servida em todos os cantos do país (entenda a seguir).

O técnico da Cultura do Café Paulo Sergio Franzini, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), explica que no Núcleo Regional de Ponta Grossa o café é cultivado em Arapoti, com cerca de 90 hectares, nas comunidades da Serrinha e do Caratuva.

Entre os agricultores que mantêm a tradição cafeeira na região está Ronaldo Sampaio. Ele seguiu os passos do pai e começou a trabalhar na lavoura de café aos 15 anos de idade.

Ronaldo conta que mexe com o grão praticamente desde que nasceu. O gosto pelo produto faz com que ele insista na produção que hoje conta com cerca de sete mil pés de café.

Ainda assim, os desafios que vem enfrentando para manter o negócio colocam em dúvida o futuro do trabalho.

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Entre os problemas, segundo ele, estão a dificuldade para obter recursos destinados à produção, como financiamento e seguro rural, pelo fato de p município não ter sido incluído no zoneamento agrícola para café.

“Essa é uma atividade que necessita de bastante investimento, precisa de equipamentos. O café também envolve muita mão de obra manual, e a mão de obra é muito escassa na região, isso desencoraja a gente”, conta o agricultor que passou a também trabalhar com gado e soja.

Trabalho cooperado

Também em Arapoti, a cooperativa Capal está inserida em todas as etapas da cadeia produtiva de café – do plantio à comercialização dos rótulos Jucafé, Robusto e Grená.

A matéria-prima vem dos cooperados que trabalham com a produção cafeeira no Paraná e em São Paulo.

“Atualmente temos um número aproximado de 10 mil hectares, entre o Norte Pioneiro e o sudoeste de São Paulo. Em produção, esse número representa em torno de 400 mil sacas de café”, ressalta Newton Openheimer Beraldo, coordenador da Unidade de Café da Capal.

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A força do café gourmet
Em Ponta Grossa, a empresa Café Lontrinha está inserida no processo de torrefação do grão desde 1958 e conta com um portfólio de produtos que vão de café solúvel até cafés gourmets.

“Os cafés tradicionais são os mais vendidos, porém temos percebido um aumento das vendas dos cafés superiores e gourmets. Estamos presentes nas lojas das cidades dos Campos Gerais, cerca de 40 municípios. Atualmente também chegamos a outras regiões através do comércio eletrônico”, explica Lucio Pereira de Oliveira, diretor comercial da empresa.

O caminho até a xícara
Até chegar à mesa dos brasileiros, os grãos passam por diversas etapas, conforme explica a engenheira de alimentos e coordenadora da pós-graduação em Gestão da Qualidade na Produção de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Keliani Bordin.

Quando o grão de café está maduro, a colheita pode ser manual ou mecanizada – apesar de mais demorado, o primeiro método ainda é o mais utilizado.

Na sequência acontece a triagem na água, e os grãos selecionados precisam então ser extraídos dos frutos, por um dos três métodos:

☕ Natural – os grãos são espalhados em terreiros e secos no Sol ou em secadores artificiais. A polpa e a casca são secas junto com os grãos;

☕Descascado – os frutos passam por um descascamento e seguem para a secagem, que neste caso é mais rápida em comparação à natural;

☕Despolpado ou via semiúmida – processo similar ao descascamento, mas aqui, além da casca, também se retira uma parcela de polpa. Os grãos ficam amontoados ou em camadas grossas para então serem fermentados e secos.l

A engenheira explica que, depois de secos, os grãos são classificados por tamanho e/ou peso, e então ficam armazenados até o momento da torrefação.

“Essa é uma parte crítica do processo, sendo responsável por modificar mais de 800 moléculas presentes nos grãos, gerando compostos responsáveis pelo sabor e aroma do café”, explica Bordin sobre a torrefação.
No caso do café em grãos, a próxima etapa é o empacotamento. Já o café em pó ainda passa pela moagem.

Você conhece os tipos de café?
Para desmistificar a ideia de os cafés são todos iguais, a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) criou, em 2004, o Programa de Qualidade do Café. A iniciativa certifica e classifica o produto com base em critérios de pureza, qualidade e boas práticas de fabricação.

As categorias de classificação incluem: Tradicional e Extraforte, Superior, Gourmet e Especial. Veja como identificar o selo:

Os cafés tradicionais e extrafortes são aqueles consumidos no dia a dia, com qualidade recomendável e custo acessível, além de um sabor intenso.

“Os cafés tradicionais podem ter até 20% de grãos defeituosos no seu blend e, para disfarçar essas imperfeições, o café normalmente passa por uma torra mais escura e moagem mais fina”, afirma Keliani.
O café classificado como superior, por sua vez, pode ter no máximo 10% dos grãos defeituosos em sua composição, e por isso a qualidade supera a do tradicional. Além disso, tem um sabor mais refinado, com notas amendoadas e de chocolate, e um gosto persistente na boca.

Produzidos 100% com grãos do tipo Arábica, os cafés gourmets envolvem uma seleção de grãos rigorosa e uma torra mais precisa, feita em menor tempo, preservando o açúcar natural do grão. O resultado é uma bebida levemente adocicada, com atributos frutados e florais.

Por fim, a classificação dos cafés especiais é feita pela ABIC em conjunto com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).

Para entrar nessa categoria, o produto deve alcançar pelo menos 80 pontos em uma escala que vai até 100, além de contar com certificações de sustentabilidade e rastreabilidade, possuir alta doçura e qualidade de acidez e baixo amargor, bem como ser livre de defeitos primários.

Fonte: G1


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