O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, fechou em queda nesta terça-feira (16), mas teve um grande respiro neste mês de julho, com a melhora do ambiente macroeconômico local e internacional.
Há um mês, no dia 17 de junho, o indicador anotava a pior pontuação do ano, com 119.138 pontos. No fechamento de terça-feira, chegou aos 129.110 pontos, uma alta de 8,4%.
Até ontem, foram 11 altas consecutivas, igualando uma série de ganhos que não acontecia desde o início de 2018.
Com a melhora, o Ibovespa caminha para zerar as perdas de 2024. O Ibovespa acumula uma queda de apenas 3,8% no ano. Há um mês, a queda acumulada era de 11,21%.
O movimento, segundo especialistas consultados pelo g1, pode ser explicado por uma combinação fatores.
São eles:
O maior otimismo com o cenário de juros nos Estados Unidos;
A melhora da percepção sobre o ambiente fiscal brasileiro; e
A amenização das preocupações sobre a nova gestão do Banco Central e o futuro da Selic.
Entenda nesta reportagem como cada um desses fatores afetou o Ibovespa e quais as expectativas do mercado à frente.
Maior otimismo com os juros nos Estados Unidos
Neste ano, o principal fator que tem mexido com os mercados de capitais ao redor do planeta é o quadro de juros norte-americanos.
O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tinha encerrado 2023 com uma leitura bastante otimista, e indicava um possível corte de juros já nos primeiros meses de 2024.
Com a indicação de que os preços estavam mais controlados e a atividade mais contida nos Estados Unidos, investidores chegaram a precificar que a instituição faria de seis a sete cortes nas taxas de juros ao longo deste ano.
Mas, no primeiro semestre deste ano, houve uma mudança nas sinalizações do BC norte-americano, que penalizou os mercados no mundo todo.
Os dados mostravam um mercado de trabalho bastante aquecido, que geram uma pressão extra nos preços ao consumidor do país. Além disso, a atividade econômica nos EUA não mostrava sinais de desaceleração.
Assim, reacenderam as preocupações do Fed sobre a trajetória de inflação na maior economia do mundo, o que acabou postergando o início do ciclo de cortes de juros pela instituição. O início estava previsto inicialmente para março, mas até o momento o Fed não se mexeu.
O quadro de juros mais altos nos EUA também trouxe uma mudança nas carteiras dos investidores. Eles optaram por migrar seus recursos, tirando-os de ativos de risco (como ações) e colocando-os nos Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano), que são considerados os mais seguros do mundo.
Por aqui, ainda havia uma desconfiança de que o governo teria capacidade de colocar as contas públicas no lugar (saiba mais abaixo). A junção de cenários acabou diminuindo a atratividade das bolsas de valores aqui e no mundo. No Brasil, resultou em uma saída de mais de R$ 30 bilhões de recursos estrangeiros.Agora, no entanto, com dados econômicos mais comportados nos Estados Unidos, o quadro parece um pouco mais previsível. No último mês, houve uma nova onda de otimismo conforme dados de inflação mostraram menos ímpeto de subida e o mercado de trabalho se enfraqueceu.
Na última segunda-feira (15), por exemplo, Powell afirmou que as leituras de inflação no segundo trimestre “aumentaram um pouco a confiança” de que os preços estão voltando à meta do Fed de forma sustentável. O comentário foi lido como uma sinalização de que o início dos cortes de juros pela instituição pode acontecer em breve.
Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, até esta terça-feira (16), o mercado apostava em uma probabilidade de 91,6% de que o Fed comece a reduzir as taxas em setembro.
Com juros mais baixos, o fluxo se inverte: investidores saem de ativos seguros e passam a considerar a bolsa de valores.
A melhora do cenário fiscal brasileiro
Apesar de os números das contas públicas ainda não estarem incontestavelmente melhores, o mercado financeiro reagiu bem às últimas sinalizações da equipe econômica sobre as contas públicas.
Para entender melhor, é preciso voltar no tempo. Em maio, as contas do governo federal registraram déficit (despesas maiores que despesas) de R$ 61 bilhões.
Em resposta às cobranças do mercado financeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez diversas afirmações que contrariavam ou relativizavam a necessidade de um corte de gastos.
Lula afirmou que a economia não podia deixar de lado o social e fez uma série de críticas à condução de juros por parte do Banco Central, além de ter indicado que o governo precisaria entender se a saída era o corte de gastos ou o aumento da arrecadação.
Já no começo deste mês — e com um dólar que foi às alturas por conta da turbulência —, o tom de Lula mudou. O presidente veio a público e afirmou que “responsabilidade fiscal é compromisso” do governo, e que determinou que a equipe econômica cumpra o arcabouço fiscal.Naquele mesmo dia, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que a equipe econômica deve continuar buscando a meta fiscal e anunciou um corte de R$ 25 bilhões em despesas obrigatórias a serem feitas no Orçamento de 2025.
É o caso, por exemplo, do anúncio de alta nos preços de combustíveis pela Petrobras que, segundo ele, “tirou um pouco da percepção negativa do mercado em relação à companhia”. Isso porque havia temores por parte do mercado de que haveria intervenção do governo na política de preços da estatal, após a indicação de Magda Chambriard para a presidência da companhia.
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