O mercado reagiu de forma negativa ao acordo anunciado pela Embraer e Boeing nesta quinta-feira (5), mas o caminho era inevitável para as duas empresas, sobretudo depois que a que a Airbus comprou parte da Bombardier no ano passado, disseram analistas.
As duas empresas anunciaram nesta quinta-feira (5) uma joint venture (nova empresa) na área de aviação comercial da companhia brasileira avaliada em US$ 4,75 bilhões.
As ações da Embraer chegaram a recuar mais de 15%.
Os analistas apontam duas razões para a queda do preço das ações da Embraer: a alta acumulada na ação da empresa ao longo deste ano diante da expectativa pela negociação e o valor do acordo anunciado nesta quita-feira mais baixo do que o esperado.
Desde o início do ano, a empresa ganhou R$ 5,113 bilhões em valor de mercado, segundo a Economatica, e portanto, há espaço para realização de lucro pelos investidores.
Na leitura do BTG Pactual, o valor do acordo ficou abaixo do esperado para o segmento de aviação comercial. “O ‘valuation’ foi inferior ao esperado para o segmento de aviação”, escreveram os analistas do banco, embora eles acreditem que há espaço para uma alta do preço das ações da companhia.
Caminho esperado
Depois que a Airbus comprou parte da Bombardier no ano passado, era uma questão de tempo para que a grande rival Boeing fizesse algo parecido.
O alvo dos norte-americanos foi a brasileira Embraer, que passará o controle da divisão mais lucrativa para a Boeing, mas ganhará competitividade em vendas e tecnologia, segundo consultores do setor.
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Boeing e Embraer anunciam nova empresa de US$ 4,75 bilhões
“É uma pena que o negócio de aviação comercial deixe de ser de acionistas brasileiros, mas é uma necessidade para que a Embraer continue competitiva no futuro”, afirmou André Castellini, da consultoria Bain Company, em entrevista à GloboNews.
Segundo o analista, sem um acordo, a Embraer teria que competir com a dupla Airbus e Bombardier e também com a Boeing, já que a empresa norte-americana não ficaria sem os aviões regionais – o produto de desejo que movimentou o setor.
Isso porque Boeing e Airbus são tradicionalmente responsáveis por desenvolver aviões grandes, para levar entre 150 e 400 passageiros, enquanto Bombardier e Embraer fazem modelos com alcance e capacidade menores, para até 150 passageiros.
Além de Embraer e Bombardier, o segmento de jatos regionais está ficando mais disputado com a entrada de novas empresas, a russa Sukhoi, a japonesa Honda e a chinesa Commercial Aircraft Corp.
“A Embraer tem o melhor produto, é líder no segmento, mas tem outras empresas entrando, então o setor vai se tornar ainda mais competitivo”, afirmou Castellini.
Vantagens
Ao fazer parte da Boeing, o principal ganho da Embraer deve ser com relação à força de vendas. Conforme apontaram os dois especialistas, a empresa norte-americana possui contatos, metodologias e ferramentas comerciais no mundo inteiro.
Além da divisão comercial, Boeing e Embraer também prometem uma outra joint-venture, com acordos específicos em engenharia e suprimentos, para vender o avião militar KC-390. A área militar da Embraer não entrou no acordo anunciado hoje.
A parte de tecnologia será outro benefício para a Embraer, que desenvolveu ao longo dos anos um forte departamento de engenharia e desenvolvimento, mas pode ganhar ainda mais com toda parte de pesquisa da Boeing.
“Talvez haja até oportunidade para os engenheiros da Embraer serem transferidos para projetos da Boeing. Talento aeronáutico é uma mercadoria escassa, e a Embraer tem uma reputação excelente”, afirmou Castellini.
Contras
O acordo ainda precisa ser consolidado, e isso deve levar cerca de 18 meses, mas especialistas apontam mais aspectos positivos do que negativos, embora algumas dúvidas se apresentem com relação a projetos futuros e a operação brasileira.
Primeiro, as duas empresas passarão a trocar informações mais completas sobre a operação, e o governo brasileiro precisa aprovar a transferência do controle acionário em meio a um cenário de eleições presidenciais neste ano.
Embora a Embraer tenha informado em comunicado interno que os funcionários 100% dedicados à aviação comercial terão emprego garantido na nova empresa, o sindicato local teme cortes cortes no futuro.
A transferência do controle também deixa em aberto o futuro da divisão de aviões comerciais. O comunicado divulgado hoje não esclarece se os aviões continuarão com a marca Embraer, mas neste primeiro momento o nome não deve mudar, segundo Riet.
“Estamos juntando um grande com um pequeno, então temos que ficar atentos para não sucumbir ao longo do tempo”, completa Riet.
Fonte: Divulgação
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