Ao longo da história, a vida no campo foi essencial para a produção de alimentos e o sustento da humanidade. Mas com o desenvolvimento das sociedades e do capitalismo houve uma mudança drástica: o surgimento das cidades.
Fortemente ligadas ao comércio, tiveram um desenvolvimento rápido e descontrolado, atraindo muitos camponeses, que viam nelas a oportunidade de uma vida mais confortável. No Brasil, o processo foi mais forte entre as décadas de 1960 e 1980, mas ainda é intenso em países como a China e Índia.
A promessa de uma vida melhor na área urbana, no entanto, nem sempre corresponde à realidade. Muitas vezes o migrante acaba nas periferias das cidades, vivendo em condições precárias. Essa disparidade entre expectativa e realidade levou John R. Harris e Michael Todaro a escreverem o artigo: “Migration, Unemployment and Development: A Two-Sector Analysis”, publicado em 1970 na prestigiada The American Economic Review.
A China, com a forte industrialização e crescimento econômico das últimas décadas, desde 2010 é majoritariamente urbana. Já a Índia viu sua população urbana aumentar mais de seis vezes, passando de 62 milhões de pessoas em 1951 para 377 milhões em 2011.
Esta numerosa e descontrolada migração está acompanhada nos dois países de problemas sociais como a marginalização de parte dos recém-chegados às cidades, que, sem trabalho, também não conseguem voltar para o campo, engrossando as fileiras de desempregados.
Ainda assim, com exceção das raras épocas em que aumenta a renda no campo, é válido para o trabalhador arriscar a vida nas cidades, considerada a disparidade de salários. Como apontam os dois autores, a migração só cessa quando a renda de um lugar supera a de outro.
Para lidar com os prós e contras, Harris e Todaro recorrem ao salário sombra. É um conceito usado para representar a melhoria de vida na cidade esperada pelo trabalhador rural ao se mudar para a cidade.
Na China, um estudo do jornal Washington Post mostrou que, ao se mudar dos vilarejos para as cidades, os trabalhadores passavam a ganhar quase 2,5 vezes a mais. No entanto, a falta de regulamentação do trabalho, assim como a discriminação, os obrigava muitas vezes a trabalhar em condições precárias e em longas jornadas, uma situação pior do que a vivida no campo.
Em um mundo cada vez mais globalizado e urbano, o alerta de John R. Harris e Michael Todaro ganha crescente importância. A migração interna traz ganhos e problemas para as cidades e seus novos moradores. Resta, no entanto, enfrentar suas consequências negativas.
* Post em parceria com André Szapiro e Caio Rodrigues Santini, graduandos em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e consultores da Consultoria Júnior de Economia da EESP-FGV. Para saber mais sobre a CJE, acesse: http://cjefgv.com
Fonte: Divulgação
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