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Com vaga no Mundial, Matheus Santana dedica touca e boa fase a tia que o apoiou

Matheus Santana lembra-se com clareza da noite de 15 de agosto de 2008, uma sexta-feira. Na época com 12 anos, ainda um aspirante a nadador, ele se aboletou na sala da casa da tia Ivone no bairro da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. Viu naquele dia, ao lado dela e outros parentes, Cesar Cielo se tornar o primeiro – e até hoje único – atleta brasileiro a conquistar uma medalha olímpica de ouro na natação ao vencer os 50m livre nos Jogos de Pequim.

Ao tocar a placa de cronometragem, mirar o placar da piscina do Esporte Clube Pinheiros e ver o tempo de 21s29 na final dos 50m livre no Troféu José Finkel, na última terça-feira, todas aquelas memórias passaram como filme pela mente do jovem de 22 anos.

Primeiro, porque três raias ao lado, estava o mesmo Cesar Cielo que venerou em 2008. Cielo venceu a prova com 20s98, 31 centésimos à frente de Matheus – ambos se classificaram para o Mundial em piscina curta de Hangzhou, na China, que ocorrerá em dezembro.

E segundo porque a tia em cuja casa viu o título olímpico, e que o apoiou desde o início na natação, estava devidamente homenageada. Ivone morreu há cinco meses, mas nunca deixou a cabeça de Matheus. Ele sempre nada com uma touca com o nome dela como tributo.

– Não sei explicar direito, mas essa vaga no Mundial representa muita coisa. Mais do que a volta por cima, essa vitória eu dedico à minha tia, que faleceu há cinco meses. Eu nado com o nome dela na touca. Ela sempre me incentivou, sempre esteve do meu lado – afirmou o carioca Matheus depois do vice-campeonato nos 50m livre no Troféu José Finkel, sem conter as lágrimas.

O recém-encerrado torneio marcou uma reviravolta para o nadador, que esteve fora da seleção brasileira por dois anos. Matheus surgiu como um fenômeno no cenário nacional, e até mesmo internacional, em 2014. Naquele ano, bateu o recorde mundial júnior dos 100m livre, faturou uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanquim (China) na mesma prova e terminou o ano entre os melhores nadadores do mundo. Nas duas temporadas seguintes, não manteve o nível, porém conseguiu se manter na equipe nacional e ir aos Jogos Olímpicos do Rio.

Da Olimpíada para cá, no entanto, a situação se tornou sombria. Matheus foi morar no estado americano da Carolina do Norte para treinar em uma equipe profissional, a SwimMac. A mudança não rendeu a melhora pretendida. Pelo contrário. Os resultados sumiram, e ele por muitas vezes nem mesmo conseguiu chegar às finas de suas provas em campeonatos nacionais.

No fim do ano passado, Matheus começou a costurar uma troca de clube, que se consolidou em abril passado, quando voltou para o Brasil e passou a defender o Pinheiros. Em junho, em entrevista ao GloboEsporte.com, disse que chegou a chorar nos treinos tamanho seu desânimo e sua má fáse técnica. Aos poucos, o trabalho com os técnicos Alberto Pinto da Silva e Regis Mencia passou a vingar. E o Finkel mostrou ao público e à concorrência que ele está no páreo para os Jogos de Tóquio 2020.

– Fiquei feliz pela prova, pelo índice e por ter feito o que eu queria fazer. Agora é seguir treinando, tentar melhorar ainda mais essas marcas para fazer bonito no Mundial. O Albertinho acreditou em mim e o Regis esteve sempre ao meu lado nesses últimos meses. Eu só fiz o que me mandavam fazer e consegui nadar rápido. Eu entrei no Finkel não pensando no Mundial, queria só nadar voltar a nadar bem. Havia um tempo que não me divertia em uma competição. Consegui – comentou.

Além da prata nos 50m livre, Matheus também ficou com dois bronzes em provas de velocidade, os 100m livre e os 50m borboleta, nas quais fazia muito tempo não frequentava pódios em grandes eventos nacionais. Mais do que o alívio, ele pensou na tia na hora de celebrar. E em como aquela noite em agosto de 2008 influenciou quem viria a ser, na água e fora dela.

– A nova geração quer levar adiante o legado do Cesar [Cielo], que abriu as portas. Eu também quero melhorar e voltar à minha melhor fase – afirmou.

Fonte: Globo esporte


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