Todo o contrário. Três dias antes da decisão da Libertadores, Boca Juniors e River Plate sentiram a diferença drástica entre o verão da América do Sul e o inverno europeu, entre estádios lotados para treinos e o isolamento dos complexos esportivos usados pelos dois times para treinar em Madri. A previsão de 30 graus para domingo em Buenos Aires caiu para a mínima de 1 e máxima de 15 na capital espanhola para o dia da final.
Sabe por qual portão eles vão chegar? Ah, já entraram? Puxa, pede para alguém vir aqui fora, tirar uma foto, dar um autógrafo…
O apelo era de José Brodersen, técnico em informática, argentino de Tucumán, mas morador de Madri há alguns anos. Sem conseguir comprar ingressos para a final no Santiago Bernabéu – “tudo foi parar na mão de cambistas” – levou o filho Einar, de 2 anos para tentar ver o River Plate treinar no CT do Real Madrid.
Mais sorte teve o dentista Piero Amendolagine, também argentino, também morador de Madri, que conseguiu ingressos para ele e a mulher Paola (também argentina) pelos canais oficiais. Sobrou ao pequeno Einar posar com Piero na porta do CT do River.
A noite caiu, o frio chegou, a temperatura baixou dos 10 graus e José foi embora sem autógrafo nem foto. Mais cedo, cenas semelhantes foram vistas na porta do CT da seleção espanhola, também nos arredores de Madri, onde alguns torcedores do Boca se juntaram na esperança de conseguir algum contato com o time.
Enquanto os argentinos que moram na Espanha fazem o possível (e fracassam) para ter algum contato com seus ídolos, os argentinos que chegam à Espanha são recebidos com um misto de euforia e desconfiança.
Com fãs de plantão na madrugada, River desembarca em Madrid para a final contra o Boca
A euforia se deve ao impacto econômico que a final da Libertadores deve gerar na final. As estimativas das entidades que trabalham com turismo em Madrid falam em uma injeção de € 42 milhões no comércio local e em 80% de ocupação na rede hoteleira.
Ao mesmo tempo, há o temor de que as cenas de violência vistas no dia 24 de novembro em Buenos Aires sejam importadas. Naquela tarde deveria se jogar o segundo jogo da final da Libertadores – suspenso porque a torcida do River atirou pedras, paus e garrafas contra o ônibus do Boca Juniors. Depois de um leilão promovido pela Conmebol, a decisão da Libertadores foi transferida para Madri.
A prefeita de Madri, Manuela Carmena, tentou escrever um artigo de boas vidas aos argentinos no jornal “El País”, mas não deixou de dar seus recados:
– Madri os abraça e e espera comportamento exemplar de todos, de forma que esta partida se converta em um símbolo para o mundo de que a paixão pelo esporte é uma emoção compartilhada, dentro do respeito e da intolerância.
Entre os jogadores de River e Boca, o clima é de vergonha resignada. Ninguém queria jogar em Madri, mas todos aceitaram a mudança do jogo como um mal necessário diante de tudo o que aconteceu Buenos Aires no dia 24 de novembro – o ônibus que levava os jogadores do Boca Juniors foi atacado com paus, pedras e garrafas por torcedores do River.
Pablo Benedetto, do Boca Juniors, voltou a dizer em Madri que esta mudança era “uma vergonha” para a Argentina, ao mesmo tempo em que celebrou a chegada à Espanha de um dos líderes da torcida organizada do clube. Javier Pinola, zagueiro do River Plate, foi direto ao ponto:
– A imagem da Argentina está manchada faz muito tempo. Não é com um fim de semana que vamos limpar. Há coisas mais profundas que precisa ser feitas para limpar a imagem do nosso país.
Fonte: Globo esporte
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