O tom claro de azul petróleo no collant não era um acaso. Simone Biles tinha uma mensagem ao escolher essa cor para se apresentar no último dia do Campeonato Americano de ginástica artística, no domingo. A multicampeã olímpica e mundial fazia uma homenagem às sobreviventes dos abusos do ex-médico Larry Nassar ao escolher a cor designada para a conscientização e prevenção de agressão sexual.
– A cor é para as sobreviventes. Eu apoio todas elas e acho que é um jeito especial de se unir – disse Simone.
Em janeiro, a ginasta de 21 anos revelou estar no grupo das mais de 250 mulheres molestadas por Larry Nassar – o ex-médico recebeu pena de até 360 anos de prisão por seus crimes. Ao lado de outras campeãs olímpicas como Aly Raisman e McKayla Maroney, Simone se tornou um símbolo da luta contra a cultura dos abusos sexuais. E a sua ginástica é o seu jeito de mostrar força.
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Neste fim de semana, Simone conquistou seu quinto título americano nos últimos seis anos – só não venceu ano passado porque tirou um período sabático. Além disso, a ginasta se tornou a primeira em 24 anos a ter as melhores notas em todos os aparelhos, repetindo o feito de Dominique Dawes em 1994.
– Eu acho que nunca pensei que seria possível ser tão consistente – disse a campeã olímpica.
Nos dois dias de competição, Simone somou 119,850 pontos (60,100 no primeiro dia e 59,750). Teve mais de seis pontos para a segunda colocada, Morgan Hurd, atual campeã mundial. Biles também teve a melhor nota no salto (15,600), na trave (15,200), no solo (14,700) e até nas barras assimétricas, único aparelho que não costumava brigar por pódios (14,850).
– Foi chocante (em 1994) e é chocante agora também. É incrível. Ela parecer estar melhor do que em 2016 é notável – disse Tom Forster, coordenador da equipe feminina dos Estados Unidos.
Depois da Olimpíada do Rio, quando faturou quatro ouros e um bronze, Simone tirou um período sabático para recuperar o corpo e a mente. Ela voltou aos treinos no fim do ano passado, no seu centro de treinamento, o World Champions Centre, em Spring, Texas, mas com técnico novo, Laurent Landi. Aimee Boorman, que a treinou desde criança, se mudou para a Flórida depois da Olimpíada.
O retorno às competições foi no mês passado, no US Classic, uma seletiva para o nacional americano. Simone já mostrou força, vencendo com 58,700 pontos, o maior somatório deste ciclo olímpico, superado agora por ela mesma.
– Eu meio que pensei que seria um desastre nervoso e talvez eu desmoronasse. Indo para essas competições, eu ficava falando para a minha família: “Eu não sei se vou ser capaz de me acalmar do jeito que eu fazia antes e lidar com os nervos.” Mas até agora tudo bem.
Presidente da USA Gymnastics quebra silêncio
O collant de Simone Biles parecia dar uma resposta a Kerry Perry. Pouco antes, a presidente da Federação Americana de Ginástica (USA Gymnastics) havia quebrado o silêncio sobre os abusos de Larry Nassar. Foi a primeira vez que ela se pronunciou publicamente desde que assumiu o cargo em dezembro do ano passado. Falou sobre as consequências do caso e implementação de 86% das mais de 70 recomendações para a entidade, acusada na Justiça de conivência. A USA Gymnastics não fez tributo às vítimas do ex-médico, mas Perry disse que espera que um dia sobreviventes e a federação estejam lado a lado.
– Quero que ela (Simone) e todas as atletas saibam que temos seu melhor interesse no coração – disse Perry.
Resultados do Nacional Americano
Geral feminino
1 – Simone Biles – 119,850 (60,100 + 59,570)
2 – Morgan Hurd – 113,300 (57,000 + 56,300)
3 – Riley McCusker – 112,750 (56,050 + 56,700)
Geral masculino
1 – Sam Mikulak – 172,900 (85,150 + 87,750)
2 – Yul Mouldauer – 168,150 (82,700 + 85,450)
3 – Allan Bower – 166,950 (83,850 + 83,100)
Fonte: Globo esporte
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