O grande desejo de todo menino que sonha seguir carreira de jogador de futebol é ir para Europa. Já para as meninas que compartilham do sonho, o destino é outro: Estados Unidos.
Atual campeão mundial, o time das americanas apenas reflete a realidade da maior potência de futebol feminino do mundo – os Estados Unidos decidem vaga na final da Copa do Mundo nesta terça-feira, às 16h, contra a Inglaterra. Por isso, é comum encontrar história de garotas que deixam o Brasil durante a infância ou adolescência a fim de tentar a sorte em terras americanas.
Só que também existe o caminho contrário: Gisele Yamamoto, 17 anos, é natural de Berkeley, na Califórnia, e viajou a São Paulo participar da primeira peneira feminina promovida pela FPF, na última semana.
Ela treina futebol desde os nove anos, é atacante, mora em Oakland, na Califórnia, e atua no California Magic Soccer Club. Foi no início deste ano, depois de participar de uma clínica de futsal, que Gisele ficou sabendo da peneira. Mas isso só aconteceu porque as organizadoras do evento eram ex-atletas profissionais brasileiras: a campeã do Pan-Americano de 2007 Rosana dos Santos e a ex-jogadora Tabata Viana.
– Desde que eu era muito pequena, antes mesmo de aprender a falar, eu sempre estava lá assistindo aos jogos de futebol com meu pai. E quando ele jogava com os amigos, eu ficava do lado de fora torcendo. O futebol sempre foi um amor na minha vida – disse Gisele.
Foi Tabata quem indicou a vinda de Gisele ao Brasil, e o motivo é, no mínimo, curioso. Nos Estados Unidos, há uma exigência quanto ao porte físico. As atletas são mais altas e mais fortes que as brasileiras. Gisele tem apenas 1,57m de altura, mas, de acordo com Tabata, sua técnica não poderia ser desperdiçada.
– Se o Messi tivesse nascido aqui nos EUA, infelizmente não teria dado tão certo, porque poderia ser excluído lá nos primeiros momentos, por conta do porte físico. Ele é pequeno. A mesma coisa com a Gigi. Ela é pequena, mas é muito inteligente, tem uma desenvoltura técnica rara. Além da paixão, que é importantíssima no desenvolvimento do atleta. E ela tem esse sonho – disse.
E a própria aspirante a jogadora reconhece isso. Vir ao Brasil não foi apenas uma tentativa de encontrar mais chances no mundo do futebol, mas a realização de um sonho.
– Meu pai é brasileiro. Foi ele quem enraizou este estilo mais técnico dentro de mim, especialmente porque sou mais baixinha, então nunca pude depender muito do meu físico para me defender e tive que encontrar outras formas. Mas sempre foi um sonho vir jogar no Brasil, e está se tornando realidade – disse.
Fã do futebol brasileiro, Gisele já escolheu em quem se inspirar: Debinha. A camisa 9 da seleção brasileira foi um dos destaques durante a participação do Brasil na Copa do Mundo Feminina, e é apenas um centímetro mais alta que Gigi.
– No Brasil, você sempre vai encontrar ídolos. Tem a Marta, a Formiga, a Cristiane. As estrelas brasileiras. Mas, atualmente, minha jogadora favorita é a Debinha. Ela é só um pouquinho mais alta que eu e joga num nível altíssimo, o que eu acho muito impressionante e inspirador: uma jogadora pequena, como ela, chegar tão longe – disse.
Ao saber da idolatria da americana, Debinha agradeceu:
– Fico muito feliz e honrada por saber que uma americana se inspira em mim! Pelo fato de ter grandes nomes nos EUA. E fico muito empolgada por ela. Eu recomendo não só a ela, mas a todas as jogadoras que têm esse sonho e gostariam de viver essa experiência.
– Acho que você não precisa ser alta ou a mais rápida para ter sucesso. Basta você aprimorar o que você tem de melhor e buscar aprender com as suas companheiras de time. Não importa o quão talentosa a pessoa é se ela não trabalhar duro e não se dedicar ao máximo – completou Debinha.
Gisele foi a primeira experiência deste intercâmbio “ao contrário” que Tabata Viana pretende continuar promovendo. A treinadora afirmou que a vinda da jogadora é apenas o começo para o que pode ser um novo mercado.
– Primeiro de tudo, o americano é muito disciplinado. Ele tem a consciência do quanto precisa se doar ali, não é só por paixão, é profissional. Além do valor que eles dão para a mulher que quer jogar futebol. Eu já tive trabalhos com crianças de quatro, cinco anos. Escolinhas repletas de meninas jogando – disse.
– A ideia é criar parcerias com clubes e instituições que possam receber também estas estrangeiras e, assim, deixá-las expostas a um sistema diferente de futebol, uma criatividade, habilidade, uma forma diferente de analisar o jogo (…) A Gigi foi uma experiência muito positiva, o feedback está sendo muito bom, é o começo de uma nova porta – finalizou.
Depois de estar presente em dois dos três dias de seletiva da Federação Paulista de Futebol, Gisele foi chamada para participar de uma peneira de futebol feminino do São Paulo.
Fonte: Globo esporte
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