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Veja por que o Corinthians explora pouco (e tão mal) a imagem de Cássio, maior ídolo do atual elenco

Tente encontrar em qualquer loja oficial do Corinthians a camisa modelo 2019 de Cássio e falhe miseravelmente – elas só chegarão às prateleiras em janeiro.

Dono de nove títulos com a camisa do Corinthians, segundo goleiro com mais jogos pelo clube e no “top 15” de jogadores que mais vestiram a camisa alvinegra, Cássio é, inegavelmente, o maior ídolo atual dos corintianos. Há quem o aponte, inclusive, como o maior da história do Corinthians.

Diante disso, surge a pergunta: por que o Corinthians explora tão mal comercialmente a imagem de seu goleiro? Por que o clube não cria produtos licenciados, como bonecos, pôsteres, brinquedos ou linhas exclusivas para aumentar o seu faturamento?

O GloboEsporte.com conversou com Alex Watanabe, gerente de marketing do Corinthians, sobre a falta de produtos ligados a Cássio no mercado.

A grande questão, na avaliação dele, diz respeito à insegurança que o futebol passa para as empresas responsáveis por produzirem um produto licenciado.

Para Watanabe, mercadorias desse tipo demandam um bom aporte financeiro, que pode ser jogado no lixo em casa de saída do atleta.

– Ninguém tem a garantia que o Cássio vai ficar para sempre. Hoje é até mais fácil achar isso, mas vai saber? Não sabemos como será o dia de amanhã, e alguns produtos levam tempo para serem produzidos – destacou Watanabe.

– Há um prazo de produção demorado, custo alto e uma falta de cultura de consumo de imagem de personalidades no Brasil, a não ser no universo infantil, como tinha a linha da Xuxa no passado. No Corinthians, a gente fez produtos das lendas que venderam bem, com Basílio, Marcelinho Carioca, Neto. Temas Sócrates e Democracia Corintiana, por exemplo, são os que mais vendem.

De fato, nem mesmo Cássio garante que se aposentará no clube. Aos 32 anos, ele diz que espera bater mais recordes com a camisa do Timão, quer ultrapassar Ronaldo (602 jogos) como o goleiro que mais jogou (tem 431), mas não crava que o Corinthians será o último clube de sua carreira.

– Jogador de futebol nunca sabe, não adianta falar que não vou sair, depois eu saio e sou mercenário. Mas estou há oito anos aqui, ganhando títulos. Eu me sinto feliz nesse ambiente de trabalho, muito contente, não sei se vou ficar para sempre… Uma das minas metas é bater recordes no Corinthians, óbvio que quero bater o recorde do Ronaldo. Estou muito feliz , quero fazer o melhor a cada dia e não penso como será lá o futuro – disse o goleiro Cássio.
O que existe hoje?
Há, no ShopTimão (loja online do clube) três camisetas especiais com a estampa de Cássio. E isso é tudo o que o site oferece ligado ao goleiro.

Esse tipo de produção, explica Watanabe, é mais fácil de fazer por não ter risco de desperdício, já que a estampa é aplicada em camisa branca após a encomenda online.

– Às vezes fazemos algumas campanhas dessa forma. Fizemos uma estampa para o Gil quando ele voltou também. É feito com um desenho virtual, sem nenhum tipo de perda econômica.

Cássio, assim como outros jogadores do elenco, recebe parte dos seus salários em direitos de imagem. Diante disso, o clube teria liberdade para usar a figura do goleiro comercialmente.

Hoje, o departamento de marketing utiliza Cássio e outros atletas em inserções de parcerias comerciais com seus patrocinadores, a maioria com vídeos gravados no CT para engajamento em rede social e divulgação nos telões da Arena Corinthians.

Há interesse do público?
O Corinthians hoje é parceiro de 120 licenciadores. Especula-se que existam cerca de 10 mil produtos licenciados com o símbolo do clube, entre chaveiros, toalhas, produtos de vestuário, canecas e várias outras formas de consumo.

Não há nada ligado a Cássio, nenhum brinquedo, jogo de tabuleiro ou mesmo pôster do jogador à venda nas lojas físicas e/ou online do Corinthians.

Na visão do Corinthians, nada supera a força da venda das camisas oficiais de jogo.
Nesta temporada, o clube lançou a 1 na cor branca (homenagem a Ronaldo), a 2 na cor preta (em referência aos 50 anos da Gaviões da Fiel) e a 3 estilizada (por conta das invasões corintianas) – clique aqui e relembre todas as terceiras camisas da história do Timão.

– O torcedor chega na loja e a camisa oficial é R$ 199, enquanto o bonequinho do Cássio é R$ 200, R$ 250. O que vale mais a pena? O peso da camisa oficial ainda é muito grande, enquanto o preço de produção para um boneco, por exemplo, que tem molde caro, é elevado. É difícil para um fabricante. Conhecemos um parceiro que fez um estoque gigante de um personagem muito forte no Brasil, mas que está lá parado há anos, sem mercado – concluiu Watanabe.

O que dizem os licenciadores?
Presidente da ABRAL (Associação Brasileira de Licenciamento de Marcas e Personagens), Marici Ferreira entende que é muito difícil apostar na personificação. Além do risco de troca de clubes dos jogadores no futebol, há sempre a possibilidade de um arranhamento de imagem.

– Você nunca sabe como será o comportamento social do jogador. Os donos não querem correr o risco de um jogador entrar em polêmica, como aconteceu recentemente com o Neymar (acusado de estupro por Najila Trindade, que agora responde por fraude e extorsão) – disse Ferreira.

– O empresário não quer correr esse risco. É muito difícil lidar com o ser humano, não se sabe o dia de amanhã. Aconselhamos que se crie um personagem fictício. Se o empresário quiser muito usar a pessoa, é possível usá-la como garoto-propaganda ou até lançar uma a coleção assinada, como camisas “by Cássio” – completou.

No Brasil, o esportista de maior sucesso em licenciamentos é Ayrton Senna, piloto falecido em 1994 e que, com a condução do Instituto Ayrton Senna pela família, virou case de sucesso em causas sociais ligadas à educação.

Fora do esporte, o caso de maior sucesso atual é do youtuber Lucas Neto:

– Ele é amado pelas crianças, apostou em bonecos e teve muito sucesso. Foram 15 mil bonecos vendidos até julho. Ele soube trabalhar a marca dele, pois virou um personagem – falou Ferreira.

Como foi nos rivais?
Para muitos o maior ídolo da história do São Paulo, Rogério Ceni foi sucesso em vendas. Por muitos anos, foi dele a camisa mais vendida entre os torcedores – o goleiro defendeu o clube por 25 anos.

Funcionários do clube na época lembram de produtos especiais lançados com a assinatura do jogador. Em 2011, por exemplo, um DVD com os 100 gols do goleiro-artilheiro ganhou as lojas.

As iniciativas foram intensificadas na reta final da carreira, encerrada em 2015. Para homenageá-lo, o São Paulo lançou camisetas, relógio, busto e kits especiais ligados a Ceni, hoje técnico do Cruzeiro.

Em menor escala, Marcos passou por isso no Palmeiras. Um dos maiores ídolos da história do clube, o ex-goleiro vendeu muitas camisas e teve um boneco com sua imagem confeccionado.

Fonte: Globo esporte


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