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Entenda 5 casos em que deputada Lucinha teria tentado ajudar milícia de Zinho, segundo PF e MP

Os agentes do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que investigam a participação da deputada Lucinha (PSD) na milícia de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, indicaram cinco episódios que demonstram a interferência da parlamentar e de sua assessora para favorecer os criminosos.

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Segundo os investigadores, Lucinha e sua assessora Ariane de Afonso Lima, agiam para proteger o grupo de ações das autoridades de segurança.

Nas investigações que ligam a milícia de Zinho à deputada, há fortes indícios de que a “Madrinha”, como Lucinha foi identificada, se valendo de sua influência, intermediou a soltura de milicianos presos em uma operação do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões. Além dessa conversa, Lucinha e sua assessora Ariane também foram flagradas em mais quatro situações suspeitas.

Conheça os episódios que ligam Lucinha à milícia:

Presença do prefeito em área dominada
O primeiro caso de possível participação da deputada na rotina dos milicianos, citado pelo MP na denúncia, aponta para o dia 6 de junho de 2021.

Na ocasião, Ariane (assessora da deputada) teve um diálogo com o miliciano Domício Barbosa de Souza, o Dom, um dos homens de confiança de Luís Antonio da Silva Braga, o Zinho, chefe da maior milícia do RJ.

A partir da quebra de sigilo telefônico de Dom, as autoridades encontraram o diálogo de Ariane com o miliciano. Na conversa, Dom pergunta sobre a data em que o prefeito Eduardo Paes (PSD) estaria presente na Zona Oeste.

Segundo a denúncia, Ariane responde imediatamente e essa informação permitiu ao miliciano que pudesse “se programar” e “retirar das ruas sua tropa armada”, impedindo, assim, a atuação do Poder Público na identificação e prisão dos integrantes do grupo.

Em defesa do esquema de vans
De acordo com as investigações, a participação de Lucinha era frequente. Em um dos casos monitorados, Lucinha esteve com Dom e atuou “de forma aguerrida” na defesa dos interesses econômicos da milícia.

Nas conversas capturadas, Lucinha ouviu do miliciano que seria interessante para o grupo “manter o sistema de brecha da P5”. O MP indica que a fala de Domício se refere ao Sistema de Transporte Público Local (STPL) da área de planejamento 5 – AP5, que corresponde ao transporte de vans nos bairros da Zona Oeste. O controle ilegal do transporte alternativo é a maior fonte de recursos da milícia na região.

A denúncia apresentada pelos procuradores do MP explica que em 2017 foi editada a Resolução SMTR nº 2906, que instituiu uma comissão a fim de reavaliar os itinerários já licitados para o transporte alternativo no Rio.

A resolução determinou que “enquanto tais estudos estivessem sendo realizados, os permissionários poderiam circular livremente nas áreas de planejamento, sem observância do itinerário original”. Esse trecho da legislação foi denominado de “brecha da P5”.

O MP concluiu que os diálogos travados entre Lucinha e o miliciano Dom no mês de setembro de 2021 já demonstram que a deputada atuou junto ao Poder Executivo para a manutenção da “brecha da P5”, a pedido do miliciano.

Pedido de operação contra milícia rival
O terceiro caso de possível participação da deputada Lucinha para beneficiar o grupo criminoso controlado por Zinho envolve a morte do empresário Alberto César Romano Junior.

Segundo o MP, Ariane e Dom conversaram sobre a morte e a presença do corpo do empresário na área dominada pela milícia de Zinho. Os procuradores afirmam que Dom contou para a assessora de Lucinha que Alberto foi morto pelo grupo rival, conhecido domo Bonde do Tandera.

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De acordo com as conversas interceptadas, Dom disse que o veículo do empresário foi abandonado na região controlada por Zinho para incriminar a milícia local. Dom pede que essa informação seja apurada pelas autoridades policiais.

Além de indicar uma possível linha de investigação, Domício teria mencionado também o desejo de que fosse realizada uma operação policial contra o Bonde do Tandera. Dom pediu à Ariane que solicitasse que Lucinha falasse sobre isso com o presidente da Alerj, na época, o deputado André Ceciliano (PT).

Nas mensagens entre Dom e a assessora de Lucinha, os investigadores também encontraram a informação repassada pelo miliciano sobre a “compra” de uma “mega operação” contra o grupo liderado por Tandera.

O MP concluiu que Zinho determinou a Domício que o fato fosse levado à deputada Lucinha, para que esta desse conhecimento a uma terceira pessoa (não identificada) e adotasse providências contra a milícia rival.

Pedido para livrar milicianos presos
No dia seis de novembro de 2021, segundo o MP, Lucinha foi acionada por Domício para atuar em benefício de milicianos do Bonde do Zinho que haviam sido detidos.

Os criminosos foram detidos por policiais militares do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões (Recom) com armas de uso restrito de forças de segurança e fardas militares.

Segundo a denúncia, a prisão aconteceu às 13h18 e cinco minutos depois a deputada fez uma ligação via WhatsApp, o que impossibilita a interceptação ou o armazenamento.

Uma hora depois da ligação de Lucinha, Domício envia uma mensagem fazendo referência ao sargento Turquês, informando um número de telefone.

Ainda de acordo com o MP, “é possível inferir que na ligação via WhatsApp, os interlocutores tenham tratado da obtenção de informação a respeito de quem seriam os policiais responsáveis pela condução dos milicianos à delegacia de polícia para que a intercessão preiteada pudesse ser levada a termo”.

Aproximadamente 50 minutos depois da troca de mensagens, a deputada encaminha uma mensagem recebida de um contato não identificado, que afirma ter falado com o comandante do Recom, coronel Silvio, e que este teria informado que o “sargento estava junto com o tenente, encaminhando a ocorrência para a 35 DP, sem presos, apenas com a apreensão de armas e fardamento”.

No dia seguinte Lucinha e Domício voltaram a se falar. Na troca de mensagens, Lucinha diz que “fez sua parte” e que iria quebrar o telefone utilizado no contato. A deputada pede que o miliciano faça o mesmo.

Troca no comando da PM

Entre os dias 18 de novembro e 7 de dezembro de 2021, os investigadores capturaram diversos diálogos entre a deputada e sua assessora com o miliciano Domício. Na ocasião, os envolvidos atuaram para influenciar na troca do comando do 27º Batalhão de Polícia Militar, em Santa Cruz.

A primeira troca de mensagens mostra Domício falando com outro miliciano e avisando que tinha pedido à Lucinha para intervir na posse do “major Santa Cruz”. Segundo Domício, a deputada iria falar com o comandante geral da PM para reforçar o pedido ao “presidente”, em uma possível referência ao deputado André Ceciliano, presidente da Alerj.

A movimentação para mudar o comando da PM na região de atuação da milícia segue nos dias seguintes. O MP identificou um diálogo entre Ariane e Domício mostrando que a deputada recebeu a solicitação por pressão junto ao Comandante Geral da PM para remover o tenente coronel Eduardo Lopes e o major Elton no 27º BPM.

Em uma das mensagens, Domício diz que “tem que promover para outro lugar”, em referência aos oficiais que assumiriam o batalhão de Santa Cruz.

De acordo com o MP, não existe qualquer dúvida de que “o Bonde do Zinho, por meio da deputada e sua assessora, tentou remover o comandante do 27º BPM, juntamente com o outro oficial (major Elton), com o objetivo de não ser incomodado pelos policiais”.

O que dizem os citados
Em nota, o ex-presidente da Alerj André Ceciliano “esclarece que jamais tomou conhecimento da atuação da deputada Lucinha em prol da milícia e nem recebeu dela qualquer pedido para atuar em interesse desse grupo”.

O ex-parlamentar esclarece ainda que “não é alvo dessas investigações, não foi sequer convidado a prestar depoimento, na condição de testemunha, sobre o caso”.

“Como presidente da Alerj, Ceciliano costumava frequentar, a convite dos deputados, todos os gabinetes da Casa e não se recorda desse encontro mencionado, em particular. Quanto às fotos, merece atenção o fato de que são imagens feitas no ambiente da Alerj, onde Ceciliano mantinha relação institucional com todos os membros e servidores de casa”, dizia a nota enviada.

Fonte: G1


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