Escrevi, há algum tempo, uma matéria na qual descrevia o Brasil como “o país das desigualdades e das incongruências”. A realização da COP-30 em Belém, capital do estado que mais agride o meio ambiente na região Norte,é um exemplo claro dessa contradição. O Pará é o maior explorador de
minérios da Amazônia — ferro, bauxita, cassiterita, além do ouro e dos diamantes retirados de terras indígenas e áreas protegidas. O estado é cortado por estradas abertas na floresta, símbolo visível da devastação.
E, ironicamente, ao lado dele está o Amazonas — com 97% de seu território ambientalmente preservado, sendo 92% apenas de floresta em pé. No mesmo momento em que se acendem as luzes de abertura da COP-30,o governo concede licença ambiental para explorar uma bilionária reserva de petróleo, equivocadamente dita como estando na foz do Rio Amazonas
— e que, na verdade, não está.
O Brasil, por meio de seu presidente, continua jogando o velho jogo político.Pressionado pelo senador Davi Alcolumbre, presidente do Senado, libera a licença para a exploração de petróleo, mas nega a licença para asfaltar a BR319. Infelizmente, o Amazonas não tem um “Alcolumbre” para defendê-lo;e assim seguimos — comendo poeira no verão e atolados na lama no inverno.
Nossos governantes pensam apenas nas eleições do próximo ano, mesmo que isso comprometa o futuro de nossos filhos e netos. A dívida pública
federal já ultrapassa os R$ 7,8 trilhões, e segue em crescimento — conta que será paga pelas próximas gerações.E quanto à COP-30? Uma fábula de despesas e resultados desanimadores.
Os países mais ricos e maiores poluidores do planeta — Estados Unidos,China, Rússia, entre outros — sequer deram a devida importância ao
evento.
Como esperar resultados concretos sem a presença desses principaisatores? Fala-se em um fundo internacional para “mitigar os danos ambientais”.Estabeleceu-se uma meta de 10 bilhões de dólares, mas os especialistas
afirmam que seriam necessários, no mínimo, 100 bilhões para enfrentar os problemas de fato — e ainda assim, apenas se americanos e chineses também fizessem o seu dever de casa.
Nem uma coisa, nem outra vai acontecer na COP-30, apesar dos milhões
gastos pelo Brasil para sediá-la.
Manaus, 09 de novembro de 2025.
Professor José Melo
Ex-Governador do Estado do Amazona
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