- Últimas Notícias

Rugido e poder quando o chihuahua cutuca pitbull

Em 7 de fevereiro deste ano, escrevi uma matéria intitulada: “Rugido e Poder: a ascensão
dos bravateiros globais”. O texto tratava das bravatas de líderes como Trump, Lula, Putin
e Kim Jong-un.Hoje, volto ao tema motivado pela nova tarifa imposta pelo presidente americano aos produtos importados do Brasil: 50%. A medida veio como resposta às declaraçõesprovocativas do presidente brasileiro durante a reunião dos BRICS.

Não concordo com interferências externas em nossa soberania, nem com afrontas aos
nossos poderes constituídos. No entanto, comprar uma briga com a maior economia do
planeta — e segundo maior comprador dos nossos produtos — não é inteligente.
Por trás dessa disputa, estão China e Estados Unidos, travando uma guerra por
hegemonia geopolítica e comercial. É uma briga de pitbulls — e qualquer chihuahua que
se meter, por mais adorável que seja, corre sérios riscos.

O presidente Lula entrou nessa disputa, cutucou a onça com vara curta, e as consequências poderão ser desastrosas para a economia brasileira. É hora de agir com prudência e sabedoria diplomática. Afinal, os EUA são grandes importadores de produtos-chave do Brasil: petróleo, aço, café, carnes. Uma tarifa de 50% nesses itens altera toda a cadeia produtiva. Soma-se a isso os segmentos de ferro-gusa
e celulose, também fortemente exportados para os americanos.

Ainda é cedo para mensurar os impactos dessa medida — Trump, afinal, é um jogador
estratégico: ele aumenta tarifas para, depois, negociar. Porém, outros países que já
enfrentaram tarifas semelhantes tiveram que rever suas projeções de crescimento, e
para baixo.

Nesta guerra contra um governante arrogante, prepotente, frio e calculista — forjado
nas esferas empresariais dos EUA, onde vale tudo para vencer — o melhor caminho é a
prudência. E, com a China no pano de fundo, pensar como um leão pode ser um erro. O
Brasil, apesar de fabuloso e rico, ainda não tem o rugido de um leão.Os prejuízos podem, inclusive, atingir a Zona Franca de Manaus. Nosso parque industrial depende do consumo interno. Se a economia brasileira enfraquecer, o consumidor terá menos poder de compra. E isso afetará diretamente a ZFM. Em 2024, o faturamento da Zona Franca ultrapassou os 200 bilhões de dólares, mas apenas um pouco mais de 10% foram fruto de exportações para os EUA.
A ZFM depende da saúde da economia brasileira. Sem mercado interno aquecido, não
há produção que se sustente No fim das contas, como diz o velho ditado:
Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.

Manaus, 11 de julho de 2025.
Professor José Melo
Ex-Governador do Estado do Amazona


There is no ads to display, Please add some