Produtores culturais acionaram a Justiça e o Ministério Público de São Paulo pedindo auxílio e providências para evitar que a Prefeitura da capital retome a remoção do grafite feito em um dos prédios que contornam a Praça das Artes, no Centro da cidade.
O complexo cultural é uma extensão das atividades do Theatro Municipal e pertence à municipalidade, mas é gerido pelo Instituto Odeon. O grafite foi feito em 2015 pelos artistas Alexis Diaz, de Porto Rico, e Inti, do Chile.
A reportagem do G1 questionou o Instituto e a Secretaria Municipal de Cultura sobre a remoção e os custos de tal ação, e aguarda retorno.
A pintura começou a ser apagada na manhã desta terça-feira (19) por funcionários de uma empresa contratada pela Secretaria Municipal de Cultura. A gestão municipal pretende inaugurar integralmente o espaço, em obras desde 2012, neste sábado (23).
A ação foi interrompida após protestos. Kleber Pagú, produtor de arte urbana, ativista e membro da comissão de assessoria a assuntos de arte de rua da Secretaria Municipal de Cultura, disse que foi avisado por amigos sobre a remoção e correu para o local.Começaram a apagar ao meio-dia [de terça], cheguei 12h40, me apresentei, pedi que parassem e descessem para conversar. Não quiseram, continuaram apagando. Sou habilitado no equipamento, então eu desliguei para chamar a atenção, e eles desceram”, relata.
“A Praça das Artes está cercada por nove prédios. Um único mural tem grafite. Tem oito em branco para pintar. Ao invés de pintar, estão apagando o único que tem arte. Arte urbana é resistente, precisa de incentivo, valorização, apoio e não de atitudes contrárias”, afirma.
Vera Santana, produtora e uma das idealizadoras do projeto que viabilizou a obra em 2015, também foi ao local assim que soube da remoção, para ajudar a conter a ação.
“Foi uma surpresa muito grande. Não importa se vai ser apagada para fazer um jardim, ou porque não gostaram da cor, ou para fazer outra obra. Ninguém destrói uma obra do [Victor] Brecheret [por exemplo] para fazer outra em cima. É desrespeito com o trabalho artístico”, defende Vera.
Desde então, os produtores tentam medidas e alternativas para recuperar o que já foi eliminado e preservar o restante.
“Estamos nos disponibilizando, colocando para eles a proposta de fazermos a recuperação de forma não onerosa. Se parar de apagar, a gente entra em contato com os artistas e, se eles autorizarem, vamos recuperar o que foi apagado”, afirma Pagú sobre a oferta feita à Secretaria Municipal de Cultura.Outra opção oferecida foi a de viabilizar a vinda dos autores do grafite, Alexis Diaz e Inti.
Nesta quarta-feira (19), Vera entregou uma carta aberta ao juiz Adriano Marcos Laroca, da 12ª Vara de Fazenda Pública, responsável pela condenação da Prefeitura e do ex-prefeito João Doria (PSDB) pela remoção de grafites na Avenida 23 de Maio.
Na decisão do dia 26 de fevereiro, Laroca também decreta que o executivo municipal não pode remover grafites existentes em equipamentos públicos enquanto não houver normas estabelecidas pelo Conpresp.
A produtora entrou com um processo administrativo no Ministério Público, por intermédio do vereador Toninho Vespoli (PSOL), solicitando providências à Promotoria do Patrimônio Público.
Grafite em nanquim
A parede, feita em nanquim pelos artistas latino-americanos Alexis Diaz e Inti, foi uma das dez cedidas para o Festival O.bra, projeto realizado em 2015 por produtores culturais com recursos próprios e da iniciativa privada.
Vera revela que foi um projeto grande, maturado durante dois anos para conseguir construir as parcerias.
Segundo a produtora, o grafite de Diaz a Inti levou mais tempo para ser concluído e foi um dos trabalhos mais caros do projeto por conta do material usado – à época, cada litro do nanquim japonês custava, em média, R$ 900.
“Essa pintura é uma das mais importantes do festival pela técnica utilizada. Foi feita em tinta nanquim. Demorou 25 dias para ficar pronta”, recorda.
Vera conta que soube que a Prefeitura pretendia apagar a obra por meio do dono do prédio. A gestão municipal, porém, não informou quando a remoção seria executada.
“Quem entrou em contato comigo foi o prédio avisando dessa situação, de que seria apagado”, explica.
Nesta terça (19), um dos autores do grafite, Alexis Diaz, postou uma foto da remoção em seu perfil nas redes sociais lamentando da destruição de seu trabalho.
Fonte: G1
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