Um grupo de aproximadamente 30 imigrantes venezuelanos, recém-chegados à capital amazonense, está ocupando uma área próxima à rodoviária, no bairro Flores, Zona Centro Sul de Manaus. Dormindo em barracas, redes e em cima de papelões, eles preferem ficar fora de abrigos especiais e procuram estabilidade financeira para encontrar moradia própria no Brasil.
“Queremos trabalhar, alugar um lugar para ficar e nos sustentar com nosso próprio esforço”, disse Manoel Fuentes, de 29 anos.
A sombra das árvores plantadas no meio fio tornou-se o teto do abrigo improvisado de 25 homens e 5 mulheres. Para comprar água e comida, o grupo se divide em funções como lavar carros e cuidar de veículos para conseguir dinheiro e tentar suprir necessidades básicas.
“Temos que trabalhar pra comprar água e comida. Se não, temos que beber água de uma torneira. Não temos gelo e nem caixa de gelo. Temos que trabalhar duro, forte e todo dia pra comprar água, almoço, janta e merenda”, disse Fuentes.
Quando não conseguem dinheiro para comprar água, eles bebem água de um cano que fica nos fundos da rodoviária. No local, também tomam banho. A torneira também é utilizada para lavar roupa que seca em um grade improvisada.
“Para usarmos o banheiro temos que pagar, para tomar banho – se não quisermos tomar na rua – temos que pagar. Nada é de graça. Aqui em Manaus não é vista a dificuldade dos venezuelanos. A cidade é muito grande, tem muito espaço pra gente morar, mas ninguém ajuda com trabalho”, lamentou Manoel.Atualmente, Manaus tem quase 600 venezuelanos abrigados em 3 Casas de Acolhimento (Tarumã, Alfredo Nascimento e Coroado).Com as péssimas condições no abrigo improvisado e a falta de alimentação, tem imigrantes que passam por problemas de saúde e sofrem para assegurar cuidados.
“Tem um aqui que ficou doente do estômago por conta da água e o alimento que estão comendo. Eu mesmo estou com malária e os postos de saúde não querem atender venezuelano. É difícil os que atendem”, disse o licenciado em educação e artes cênicas, Richard Solorzano. Ele chegou em Manaus há pouco mais de um mês e ainda não conseguiu emprego.
O amigo dele, Fuentes, é diabético e passou cinco dias em Boa Vista, para conseguir tirar os documentos. Ele contou que lá há 17 abrigos.
“Sou diabético e hipertenso e não tenho como comprar insulina, os medicamento”, disse, mostrando o pé machucado após andar 8 dias para chegar em Manaus.
Ele observou que, em Manaus, há menos abrigos e a maioria atende mais mulheres e crianças. “Aqui (na rua) estão ficando mais homens, que têm mais condições de morar na rua. As mulheres não têm condição, é muito perigoso”, apontou.
Fuentes disse quando que, assim como os amigos, busca emprego e não quer viver de doações. Por isso o grupo optou pelo acampamento ao invés de ir buscar abrigo.Não queremos abrigo, queremos trabalho para ganhar dinheiro, alugar um local e comprar comida. Queremos fazer tudo com o nosso esforço. Aqui tem muito profissional, gente com licenciatura em educação, química, artes”, apontou.
Manoel, que é formado em licenciatura em educação e direito veio do estado de Anzoátegui, no norte da Venezuela. Ele entrou há quase um mês no Brasil e está ha 15 dias em Manaus. Sem perder as esperanças, o advogado que já foi primeiro tenente do exército, aposta em dias melhores.
“Não viemos pra roubar ou fazer coisa errada. Estamos trabalhando, mas gostaríamos de ajuda para trabalhar e não de refúgio. Tem gente no refúgio deitado, esperando que tragam almoço, janta e roupa. Nós não. Nós queremos trabalhar e conseguir as nossas coisas”, finalizou.A Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Direitos Humanos (Semmasdh) enviou uma equipe ao local para avaliar a situação dos imigrantes. Em nota, o órgão afirma que, atualmente, não há espaço de acolhimento disponível em Manaus.
“Não tínhamos conhecimento desse novo grupo de venezuelanos na rodoviária, então a Semmasdh está enviando, ainda hoje de manhã, uma equipe para verificar a situação. Nos nossos espaços de acolhimento não temos vagas disponíveis, então comprovada a necessidade, iremos verificar junto à Caritas a possibilidade de abrigamento.”
Instalação em Manaus
Entre o final de agosto e início de setembro a capital amazonense recebeu 263 venezuelanos por meio do processo de interiorização do Governo Federal. Com a onda migratória, a cidade passou por processos de adaptação para receber os imigrantes, que ficam distribuídos em três grandes abrigos.
O trabalho social feito dentro do abrigo consiste em um processo de integração social e amparo legal para que os venezuelanos obtenham documentação regular e sejam inseridos no mercado de trabalho. Esse trabalho é feito pelas Cáritas, que são casas de abrigo, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos.
Crise na Venezuela
A onda migratória para o Brasil, principalmente pela fronteira com Roraima, e a expansão para Estados vizinhos teve início ainda em meados de 2017. Os venezuelanos deixam o país de origem por conta da grave crise econômica e a falta de alimentos e se apresentam como refugiados, em condição de perseguição política ou crise humanitária. Em Manaus, buscam empregos e, principalmente, atendimento de saúde pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Fonte: G1/AM
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