Essencial para a vida e para a economia, a escassez de água doce é hoje um problema
que atinge todo o mundo, com consequências graves para a saúde, a economia e o meio
ambiente. Do total de água existente no planeta, 97% estão nos oceanos e mares — ou seja, água
salgada. Apenas 3% correspondem à água doce, própria para o consumo e para as
atividades econômicas.
Essa pequena parcela de água doce é encontrada em rios, igarapés, lagos, lençóis
subterrâneos e na umidade do ar. No entanto, desses 3%, apenas cerca de 7% estão
presentes em rios e lagos, fontes mais acessíveis e, portanto, mais vulneráveis às ações
humanas.Por conta disso, muitos dos grandes rios e lagos do mundo enfrentam sérios problemas de contaminação por metais pesados, poluição e assoreamento. O Yangtzé, o maior rio da China, está desaparecendo gradualmente e sofre com grave contaminação por metaispesados.
O Ganges, rio mais importante da Índia, sofre com assoreamento e contaminação por bactérias fecais, provocando surtos de doenças como tifo e hepatite,que matam centenas de pessoas. Nos Estados Unidos, a má distribuição da água doce,somada ao vasto território, faz com que regiões como a Califórnia enfrentem secas periódicas.
Na Europa, diversos rios vêm diminuindo e sendo afetados pela poluiçã como foi amplamente noticiado durante os preparativos para as Olimpíadas de Paris,quando o rio Sena virou manchete mundial.
As principais causas dessa crise são:
• Mudanças climáticas, que alteram os padrões de chuva e aumentam a
evaporação das águas, reduzindo sua disponibilidade;
• Crescimento populacional, que nas últimas décadas elevou drasticamente o
consumo de água doce;
• Poluição, sobretudo nos grandes centros urbanos, que torna a água imprópria
para o uso humano;
• Uso intensivo na economia, especialmente na agricultura, com irrigações
excessivas e mal gerenciadas.
Infelizmente, salvo ações isoladas de ambientalistas e de alguns cientistas vinculados a organismos como a ONU, observa-se pouca mobilização efetiva por parte dos países
mais ricos e populosos frente a esse problema.
Para reflexão: é justamente nos países com grandes populações — como China, Índia,
Paquistão, Bangladesh e em diversas nações africanas — que se concentram os
problemas mais críticos relacionados à escassez de água doce. As consequências se
manifestam em diversas frentes: na saúde, devido à contaminação da água; na
economia, afetando especialmente a indústria e a agricultura; nos conflitos geopolíticos,
relacionados ao controle dos mananciais; e no meio ambiente, cuja degradação tende a
se agravar ainda mais Portanto, torna-se urgente:
• O uso eficiente da água doce que ainda nos resta;
• A busca por mecanismos eficazes de tratamento de águas contaminadas, para
torná-las potáveis;
• A adoção, por parte dos países, de sistemas de gestão hídrica que garantam o
uso responsável e sustentável dos recursos hídricos.
A inércia poderá condenar as gerações futuras a pagar um preço alto pela absoluta falta
de água doce.
Manaus,14 de abril de 2025
Professor José Melo
Ex-Governador do Estado do Amazona
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